Hoje eu chorei...
Ontem e antes de ontem também!
Mas, hoje, as lágrimas foram diferentes, ouso dizer que foram doces, mesmo sendo lágrimas de nostalgia...
O choro de hoje nasceu no peito, subiu apertando a garganta e derramou pelos olhos.
Eu não sei se foi aquele filme ou minha alma sufocada...
As palavras escorreram com as lágrimas recém choradas.
Não enxuguei e nem engoli. Reuni todas...
As lágrimas e as palavras.
E derramei aqui!
Era sobre a alma que queria escrever. Algo profundo e delicado...
Roçou as palavras. Esperou uma sugestão no sussurro do vento. Olhou para o céu com um apleo suplicante. Viajou no tempo. Esqueceu as perguntas. Silenciou...
Voltou a ser o que era antes de se tornar ela mesma. Viajou na velocidade da luz, expandiu-se, confundiu-se, misturou-se, tornou-se uma... Tornou-se toda!
Experimentou o silêncio e a plenitude da vida. Desmanchou-se... Escorreu... Flutuou...
Abriu os olhos, lentamente, o corpo leve a alma viva!
Fechou o pequeno caderno e transbordou...
É estranho como a gente acumula de tudo no coração: raiva, inveja, ódio, rancor... E quase que não sobra espaço para guardar o que é bom!
Toda pessoa deveria poder se sentar na areia da praia, numa manhã de verão, e ter contato com a magia de um amanhecer.
Eu gosto de me sentar na areia de manhã e, quando a primeira centelha de luz surge de dentro do mar é lindo de se ver... O sol subindo vai pintando de dourado tudo o que toca. Vem correndo pela água mansa, se esparrama pela areia e vai chegando pertinho da gente... Sobe pelos pés até chegar no coração!
Eu gosto de ver como a areia brilha com a luz da manhã, parecem minúsculas chamas reluzindo à minha volta. A vida vibra em manhãs assim...
Eu gosto de manhãs assim, onde posso flutuar livre como um pássaro, e quando chego lá no horizonte, onde sol e mar se tocam eu me encontro com a Criação em toda a sua imensidão...
Tem segredos escondidos nas noites de verão... Só os que acordam cedo e tem olhar apurado podem perceber... Sim, há um segredo em cada amanhecer!
Acordei com o som estrondoso do trovão...
Levantei aos trambolhões e corri até a varanda para ver a tempestade chegar. Abri uma fresta da janela para sentir as primeiras gotas de chuva tocando minha pele. Ela veio forte, intensa e imponente!
Na rua iluminada por lampadas amareladas pude ver as árvores dançando ao som do vento. Pequenas folhas desgarradas rodopiando em cÃrculos mágicos. Senti o cheiro da areia se misturando com a chuva...
Os relâmpagos e raios se intensificaram e, por um momento, o mundo silenciou, e a fúria reinou!
Pensei em pegar minha câmera e registrar aquilo tudo, mas pensei melhor e decidi que certas coisas a gente guarda na nossa própria gaveta empoeirada. Aquela gaveta que só a gente mesmo pode abrir, de vez em quando, e deixar arejar.
Enquanto raios corriam soltos pelo céu negro me ocorreu o quanto vivemos em um mundo efêmero e fugaz. Não guardamos mais as lembranças, elas ficam esquecidas em uma postagem digital. Podem até render uns likes ou comentários fúteis, mas se vão, viram lembranças esquecidas...
Por isso decidi pegar meu diário. Sim, eu tenho um diário e acho que todo mundo deveria ter um também.
No meu diário, escrito a lápis, tem histórias mágicas de tempos findos.
No meu diário, escrito a lápis, tem letra borrada e torta traduzida em palavras de angústia ou alegria de momentos guardados em folhas amareladas.
No meu diário, desenhado a lápis, tem imagens únicas. Ilustrações que dispensam legendas e que só eu posso traduzir...
E foi assim, que nesta madrugada de tempestade, guardei para mim em meu baú de recordações a magia da tempestade em letra e imagem para que eu possa qualquer dia desses acordar durante a noite e sentir o cheiro da areia molhada que rabisquei na folha borrada do meu pequeno diário.
Olhava-se atentamente, frente ao espelho, com olhos surpresos. Quem era a pessoa que estampava aquele reflexo? Não era ela... Ainda ontem uma menina espiou por ali, tinha olhos determinados e uma energia inesgotável!
Aquela que o espelho refletia hoje era muito diferente. O olhar ainda era vivo, mas o rosto, nem de longe, era o mesmo. Quando foi que isso aconteceu?
Foi então que ela percebeu que há muito não se olhava de verdade. Começou a observar-se e aquela
estranha no espelho olhou-a duramente, desafiadoramente.
Foi então que viu com olhos amedrontados aquele fio de cabelo branco na têmpora, gritando em meio
aos cachos negros. Espuma branca em um mar de ondas escuras... Arrancou o fio, em um gesto infantil e desesperado, como se a sua ausência amenizasse os anos idos.
Olhou um pouco mais, com olhos corajosos. Viu as marcas que começavam a surgir, marcas sutis, marcas que imprimiam não só felicidade, afinal era uma tolice esta história de que temos rugas de alegria. Não, ela não se permitia ter pensamentos tão ingênuos. Sabia que aquelas marcas imprimiam sua vida, os momentos tristes e felizes, as preocupações, os medos, as certezas e as dúvidas, as belezas e horrores que havia presenciado ao longo dos anos... Sabia que aquelas marcas imprimiam sua vida e seu modo de viver. Toda a história de uma existência.
Olhou firme, com olhos risonhos e ficou feliz por reconhecer que, mesmo com todos os desafios fÃsicos e psicológicos pelo qual havia sido submetido, aquele corpo ainda à carregava com dignidade.
Olhou atentamente, olhou com olhos esclarecedores pois, finalmente, havia entendido porque dizem que a vida começa aos quarenta!
A vida começa aos quarenta porque é quando começamos a caminhar mais devagar e, assim podemos apreciar suas belezas. É quando não temos pressa de chegar e, assim, podemos fazer uma parada e conversar com alguém que esteja na estrada também. É quando percebemos que o caminho é mais importante que o destino e quando, finalmente, entendemos que a existência é muito mais do que o espelho nos mostra!
Quero que acredite!
Quero que acredite com uma fé capaz de mover montanhas e sacudir árvores...
Mas lembre-se: nunca se deixe enganar enxergando coisas que não existem. Há uma diferença sutil e, compreendê-la, não é uma arte para quem tem espÃrito fraco.
Se você pretende impor sua vontade ao mundo, tem que exercer controle sobre aquilo que acredita...