A Jornada...

Como uma Jornada pode piorar?
Como a procura por si mesma pode ser ruim?

Certamente são perguntas que passam por suas cabeças...
Vamos ver se consigo passar, além das palavras, um pouco do que sinto neste momento.

Nenhuma Jornada é uma linha reta,
Nenhum caminho é único,
Sempre haverá dilemas,
Dúvidas,
Escolhas...

Neste momento, adentro em um lugar totalmente desconhecido.
Colocando em palavras, ou imagens, ficaria assim:

Minha jornada seguia por uma trilha muito clara e alegre,
Diria que ela era perfumada e doce...
Com o passar das caminhadas,
Escolhas e tropeços do caminho
Cheguei à um lugar totalmente desconhecido...
Selvagem e sombrio.

Pense nele como uma floresta fechada
fria e assustadora.
Um lugar virgem, intocado,
Bruto!

Eis que é neste cenário que me encontro agora.
E, esta terra inexplorada é meu coração...
É minha alma!
Tão guardada quanto uma selva inacessível aos predadores
Pura mas assustadora
Limpa mas sombria

E é neste momento que a solidão mais me assusta...
Ninguém pode trilhar comigo
O caminho é só meu
Mas o medo de saber que monstros vou encontrar aí me deixam estagnada
Não consigo prosseguir...
Não quero continuar!

Não ando nada bem sabe?
Me deixe sozinha por enquanto.
Todos merecem um ou dois momentos de solidão, quando desejam.
E, se por acaso, houver lágrimas, me perdoem.
Afinal, minha Jornada está difícil e, eu, estou aprendendo o que é tristeza de verdade.

Depois do dramalhão épico da minha última postagem, certamente, vocês estão prontos para entender a situação em que eu me encontrava.
E, eu, pronta para contar tudo o que se passou desde então...

Redesenhando o cenário... Abrindo as cortinas...

Eu me encontrava imobilizada devido à um acidente que me causou muita dor física.
Fui obrigada à ficar de repouso.
Me sentia debilitada,
Machucada,
Desamparada.

Mas o que mais me surpreendeu neste momento não foi nada disso!

Com o passar dos dias passei a sentir um incômodo,
Um desconforto.
Não entendia bem o que era!

Foi, então, que percebi
Pela primeira vez em minha vida me sentia só.
E, esta solidão, não era a mesma à que estava acostumada!

Não era aquele passeio solitário de bike pela praia,
Me energizando,
Me entorpecendo de Natureza!

Também não era aquela solidão de quando estou entretida com um bom livro,
Onde passeio,
Viajo,
Vivo um novo mundo!

Era uma solidão que doía dentro de mim!
Era como se algo me tivesse sido arrancado...

E, assim segui, nos primeiros dias.
Vazia,
Triste,
Melancólica...

Cheia de tudo
Não me contentando com nada!

Só quem já esteve preso ao leito para saber o quanto os dias passam lentos,
E este tempo só, realçava, ainda mais, a lentidão dos dias.

Comecei a sentir auto-piedade e a alimentar sentimentos de dor
Mas não era uma dor do corpo físico
Era uma dor da alma...

Eu ainda não sabia,
Mas este era só o começo
E as coisas poderiam piorar muito!
Muito mesmo...

Hoje minha manhã foi tensa.
Voltei do retorno médico e, apesar de ainda estar imobilizada,
Fui, finalmente, lavar a roupa que estava usando no dia do acidente.
Já faziam três dias que ela estava sobre o tanque aguardando o devido cuidado que merecia.

No instante que a toquei, foi como se um turbilhão de imagens e emoções se apossassem de mim.
E, em ondas colossais, trouxessem a tona tudo o que a mente havia guardado.
Tudo que estava escondido, dando tempo para o corpo se recompor...
Mas estava lá o tempo todo.

Me vi pegando a onda
A felicidade que precede o movimento de se equilibrar
A euforia de conseguir
A tranquilidade de ser levada até a beira da praia...

Então veio o salto,
O baque seco na areia,
A ardência no dedo,
Me lembrei, até, do pensamento que tive neste momento:
"Só falta a louca se quebrar!"
O sorriso que dei pelo pensamento.

E então uma leve dormência
O toque em algo pontudo saindo de dentro de meu corpo
Uma quentura que se iniciou em meu estômago e subiu até a cabeça.
O pânico diante da certeza...
Me machuquei mesmo!

Relembrei a frieza ou a calma, seja o que for, que tive no momento.
Puxei o pesado long até a areia
E percebi o rastro de sangue que me seguia
Fiquei calma
Procurei me manter serena
Não tinha dor
Só uma ardência...

Soltei o leash, enquanto observava a enorme poça de sangue se formando
Caminhei um pouco mais, saí da água
Comecei a sentir um pouco de dor
Nada alarmante
Acenei para meu treinador e o chamei
Esperei que ele saísse do mar e chegasse até a areia
Ele me olhou assustado!

Disse que havia quebrado o dedo...
Ele até tentou me tranquilizar dizendo que foi apenas um corte.
Mas eu sabia...
Caminhamos até a escolinha
Ele lavou o ferimento
Estava feio!
Correu para procurar algo para estancar o sangue

Olhei o caminho que percorri e vi o rastro de sangue na areia
Olhei para o corte
Estava muito feio...
Uma enorme poça de sangue se formava novamente.

Ele fez o trabalho que podia,
Estancou o sangue com papel e um pedaço de trapo que encontrou por ali
Chamou a ambulância
Nervoso, apreensivo...

Me mantive calma e lasciva
Fui para o hospital e daí para a frente foi que tudo começou...

Me apoiei no tanque
Meu pé latejou forte

Lembrei da dor...
Do corpo sendo rasgado de dentro para fora
Sangue!
Sangue... pele... gordura... ligamentos!
Tudo parecia querer fugir pelo ferimento.

Balancei a cabeça
Como que expulsando uma névoa
Joguei as lembranças fora

Ainda vi relances de agulhas,
Torções
Dor!
Lágrimas,
Gritos
Dor!
...............................................

Você deve estar se perguntando o que isso tudo tem a ver com minha Jornada não é mesmo?
Na verdade, este foi apenas o prólogo.
Apenas o cenário para que você possa entender em que ponto da Jornada cheguei.
E por qual trilha seguirei...

Não quero lágrimas, pena ou compaixão...
Na verdade não foi nada demais!
Você vai entender que é uma coisa que tinha que acontecer.

E, por mais que eu à tenha evitado, o destino fez seu joguinho
E me colocou lá...

Na minha trilha!

Este é o meu momento
Querendo ou não
Terei que percorrer a trilha que mais me assombra
Aquela que por tanto tempo evitei...

Vou trilhar meu íntimo
Minha mente
Minha sanidade
Minha insensatez!

Já resgatei almas perdidas do escuro.
Incendiei a escuridão.
Passei a noite nos braços da morte e saí com minha vida e minha sanidade.
Fui expulsa de templos de magia negra mais vezes do que se possa contar nos dedos.
Caminhei à luz do luar por trilhas que muitos temem falar.
Conversei com Deus e seus anjos.
Amei e glorifiquei.
Fiz chorar a alma mais pura que poderia encontrar.
Certamente, vocês já devem ter ouvido falar de mim!

Sempre quis que minha história começasse assim... rs
Dá um ar de grandiosidade.
Não pelo lado de ser grande como uma celebridade
Mas, como poderia dizer?
Como ser grande em espírito
Gostaria de ter minha história contado como se fosse nobre
Isso mesmo
Uma Alma Nobre

Vivemos um tempo demasiado agitado para as pessoas se preocuparem com isso
Gostaria de deixar para as gerações vindouras
um pouco de pureza,
um pouco de simplicidade,
um pouco de generosidade...

Me parecem adjetivos tão grandiosos!

E, a certa altura de minha jornada
parecem sentimentos tão esquecidos
abandonados
largados
deixados de lado

Na sociedade do um por todos e Deus por mim vale tudo!

Mas eu, ainda, me derreto com um sorriso sem motivo
com um olhar de caridade
com uma generosidade desprendida
com um toque de carinho
com a energia de um abraço
com uma lágrima de consolo
Sentimentos grandes há muito abandonados

Mas só o fato de sentí-los me trás uma fina esperança
Uma esperançazinha que vai e vem
Mas só de existir já me deixa feliz!

E é com esta esperança que guio meus passos agora.

Minha Jornada estava lenta e desanimada
Mas uma fagulha de felicidade me atingiu...

Me sinto incendiada
Cheia de vida
Posso sentir a LUZ exalar do meu coração
E como raios percorrerem meu corpo

É animador
Aliás, mais do que isso
É eufórico me sentir assim
Como há muito não me sentia

Agora, deixo a leveza do momento me conduzir...
Que estrada andarei?
Que trilhas percorrerei?
Como saber se não seguir?

Afinal este é o objetivo de minha Jornada
Seguir...