Logo depois do almoço parti para mais uma consulta.
Juntei toda a minha dor em um pequeno envelope. Antes de fechá-lo, porém, fiz um pequeno inventário: raio-x, exames de sangue, receituários, encaminhamentos... Todos os quatro meses de dor estavam devidamente acondicionados dentro do pequeno envelope pardo.
Ao terminar dei um profundo suspiro e segui, um pouco mais arqueada que o habitual. Na bolsa carregava o pequeno envelope pesando feito chumbo.
Já na sala de espera entre cheiro de remédios e medo, sussurros e histórias doloridas que vinham de bocas enrugadas, desdentadas e sofridas... Tentei me afastar. Concentrar a mente em outro lugar onde a tristeza e a dor não existam, um lugar onde o tempo não importe e onde a liberdade seja tanta que o corpo não mais exista.
O barulho da chuva, caindo lá fora, me transportou por um mundo de paz e entorpecimento. Não sei se fiquei assim quieta por minutos ou por horas, perdida na visão dela... No doce som de água que fluía...
Ao ouvir o chamado do meu nome a imagem se desfez em pedaços, como um sonho quando a gente desperta.
No consultório entre apertos e gemidos saí com meu envelope um pouco mais pesado, mas com a alma muito mais leve...
Pois eu sei da verdade... Eu experimentei a liberdade!
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